terça-feira, 12 de outubro de 2010

O que a Medicina faz com você psicológicamente?

Achei interessante postar aqui o relato de uma estudante de Medicina na Comunidade 'Estudantes de Medicina', no site de relacionamentos Orkut. No tópico com o mesmo nome deste post, a garota relata a situação psicológica da qual está exposta à partir do momento em que começa a vivenciar a experiência do curso. Meu intuito que expor este relato aqui foi apenas para fazer com que outros estudantes de Medicina como eu, que derrepente possam estar em uma situação parecida, possam ter a consciência de que a vida é um paraíso se comparada com a realidade de outras pessoas. Segue o relato de 'P.':

''Talvez esse seja meu questionamento durante os últimos três anos. Quando nossa pele é exposta a uma condição diferenciada, ocorre a chamada metaplasia, em que geralmente o tecido anterior é substituído por um mais resistente, ou algo assim. Quando sofremos um acidente leve, um corte, as feridas cicatrizam com o tempo. Mas quando a lesão é maior, muitas vezes não dá tempo das feridas cicatrizarem, a perda de volemia faz com que a pessoa morra antes, em alguns casos.



Sabe, eu me sinto assim... incapaz de cicatrizar as coisas, pq são tantas feridas, e tão profundas que receio que não vá conseguir. E boa parte delas foram causadas pela medicina, mesmo que indiretamente.


Eu era uma garota tímida, mas que sempre soube o que queria. Consegui passar numa universidade publica depois de muito estudar, mesmo sendo de uma família pobre. Era agredida na minha casa, então fazer faculdade em outra cidade era quase uma necessidade de sobrevivência, e mesmo com as adversidades, de alguma forma consegui.

Quando entrei aqui, vi que nada do que eu fazia era suficiente, era sempre menos. Mal eu sabia que era só uma impressão, entretanto com o passar do tempo, fui ficando tão deprimida que de fato passei a produzir menos do que deveria. Não conseguia fazer amigos, as pessoas em geral me tratavam como se tivesse alguma doença contagiosa, acho que pelo fato de eu ser muito diferente. Com o tempo fui fazendo algumas amizades superficiais pois aprendi que não se pode ficar sozinha, vc precisa das pessoas.


Quando chegava em casa depois das aulas, não tinha forças para abrir o livro, sentia uma dor tão imensa que só passava quando ficava inconsciente. Muito diferente da época que eu madrugava estudando e mesmo depois de 4 horas de sono ainda tinha todo o pique do mundo. Passei a comer demasiadamente, e engordei algo como 20 quilos.

No segundo mês na cidade nova procurei uma psiquiatra, ela me receitou um antidepressivo. As doses foram aumentando progressivamente, quando chegava na dosagem máxima era trocado por outro, e nada de resultados. Apenas efeitos colaterais. Fiquei com acne, meu cabelo começou a cair. Logo eu que sempre fui tão vaidosa e considerada uma menina bonita...



Quando tentava falar com alguém, que não estava bem, tudo que ouvia é: Como assim? Vc faz MEDICINA, muita gente queria estar em seu lugar e vc ainda reclama? Deixe de choramingar vai sair, estudar, se divertir... Honre a faculdade que vc está fazendo.


E eu tentei... Criei uma nova persona, passei a ir para as baladas, não levar as coisas tão a sério, evitar de pensar nos meus problemas. Funcionou por um tempo, mas o engraçado é que mesmo depois de uma festa e ficar com um cara, ou de sair com as amigas, em que todos diziam o quanto eu era engraçada, quando eu chegava em casa, sentia apenas vontade de chorar e não sair mais da cama.


Passei a engolir tudo, pois eu estava fazendo medicina, o sonho da minha vida, e eu não podia reclamar, afinal era algo que muita gente queria... aulas, provas, estresse, mas fui agüentando, tomando cada vez mais antidepressivos e fingindo estar tudo bem. Com o tempo parei de chorar, me transformei numa máquina.
 
Tinha pessoas na minha sala que eu não suportava, adoravam falar da vida alheia, como se ainda estivessem no colegial. Procuravam detalhes para implicar com alguém. Alem de serem competitivos em um nível patológico.



Conseguia nota para passar, embora minhas notas sempre estivessem entre as mais baixas. Faltava aulas para dormir, e quando conseguia estar lá era uma tortura pq a única coisa que pensava era em ir embora. Literalmente sentia vontade de vomitar quando pisava naquele HU. Mas não falava nada, pois não queria ouvir que estava reclamando à toa, então continuei.


Teve um dia que me olhei no espelho e vi uma pessoa tão diferente da que costumava ser, senti saudades da época em que tinha paz. Acho que fiquei uma semana sem conseguir ir para a aula.


Sim, eu fiz terapia. E minha terapeuta não ajuda em nada. Mas como não pago nada, pois não tenho condições, continuo com ela. Já faz dois anos que faço análise e não senti nenhuma melhora. Tem dias que gostaria de simplesmente não acordar.Já falei com a minha mãe sobre a possibilidade de parar a faculdade por um tempo e quem sabe me tratar, pois não estou legal. Ela disse que de forma alguma vai continuar me mantendo aqui pro mais tempo do que o necessário.

No final, eu acho que a medicina me matou. Mas eu continuo, e rezo para que as coisas melhorem, que eu consiga ser forte e superar tudo isso.As pessoas que convivem comigo diariamente jamais poderiam imaginar que estou desse jeito, faço questão de não mostrar, pois sei que não seria compreendida.




É isso, deculpa pelo post tão longo, mas precisava desabafar."


Precisava mesmo...

Nenhum comentário: